Tendência mundial de locação de obras de arte ganha espaço no Brasil

A galerista Marisa Melo revela que o público para esse tipo de serviço cresceu na pandemia, e que o aluguel de obras de artes ajuda a democratizar o mercado

Já pensou se, ao invés de comprar, você pudesse alugar obras de arte? Pois bem, a tendência mundial de aluguel de obras de arte tem conquistado aos poucos o público no Brasil. A ideia, que ajuda a democratizar o acesso à arte, não é nova, e é bastante difundida nos Estados Unidos e na Europa, mas passou a ganhar mais espaço nas galerias brasileiras durante a pandemia. Segundo a galerista Marisa Melo, fundadora da UP Time Art Gallery, um dos espaços paulistas onde é possível locar obras de arte, a prática ajudou a arte a ter maior circulação durante a crise sanitária causada pela COVID-19.

“Temos de acompanhar a evolução do mundo. Não há necessidade de as obras ficarem em museus e galerias esperando sabe-se lá quanto tempo para encontrarem o seu dono. Quem aprecia arte quer muito ter uma obra cobiçada em sua parede. Acredito que todos os setores sofreram com a pandemia e arte, de certa forma, acabou servindo de regalo para muita gente. Nesse momento difícil, as pessoas querem se aproximar da arte. Sem a possibilidade de locação seria muito difícil determinadas obras chegarem a classes sociais diferentes. Além de fomentar o mercado de arte, o aluguel deixa pessoas diferentes quase que no mesmo patamar”, explica ela.

Apesar de ainda tímido no Brasil, o mercado de aluguel de obras de arte vem chamando atenção de colecionadores e dando visibilidade a novos artistas. “Existe um público que ainda é médio, mas com grande potencial de crescimento. No Brasil, temos várias questões que giram em torno da cultura: como questões sociais, questões políticas e a própria educação. Não há incentivo, assim como não há investimento nesses setores. Tudo isso acaba influenciando no mercado de artes. Ainda assim a locação está aquecendo o setor com mais eficiência do que a própria venda. Existe um número muito grande de jovens investidores que querem comprar arte, mas, enquanto não alcançam financeiramente o valor da obra, alugam. Hoje, temos vários artistas emergentes maravilhosos, no mundo todo, com grande potencial, que encontram o mercado de arte muito fechado. A locação modifica essa estrutura e traz notoriedade para artistas que talvez demorassem muito mais tempo para alcançarem visibilidade”, conta Marisa.

Para alugar uma obra de arte, é preciso desembolsar entre 5 e 20% do valor da obra, dependendo do artista: “O contrato pode variar de meses há anos e a galeria faz a intermediação sem burocracia. Tudo é muito seguro e autêntico. O cliente entra em nosso acervo virtual, escolhe a obra, agendamos um horário para que ele possa apreciá-la pessoalmente e decidir pelo aluguel da obra ou não. Muitos clientes vêm com uma obra na cabeça e quando vêm o acervo acabam mudando de ideia. No caso de avaria, o cliente se responsabiliza pelo custo da restauração”, esclarece.

A galerista revela também que o aluguel de obras de arte muitas vezes serve de ponte para a venda final: “A locação tem se mostrado muito eficiente, os clientes que compram arte, num momento de crise, acabam alugando e vislumbrando a compra futura dessa mesma obra. Normalmente poucas pessoas devolvem, o que realmente ocorre é a troca por outra obra ou a compra”.

A UP Time Art Gallery não é a única galeria que disponibiliza o serviço de aluguel de obras de arte no Brasil e a tendência é que cada vez mais estabelecimentos passem a trabalhar com essa dinâmica. A apArt Private Gallery, por exemplo, também oferece obras para locação. “No mundo sustentável de hoje, alugar uma obra de arte pode ser uma forma de renovar o que você vê todos os dias, sem comprometer a saúde do nosso planeta. Alugar diferentes peças de diversos artistas também é uma forma de abrir os olhos para o que está acontecendo em termos de cultura ao redor do mundo”, diz Thais Marin, responsável pela galeria.

Abrir os olhos dos consumidores de arte, inclusive, também é um dos objetivos de Marisa Melo. “A UP Time nasceu com a ideia de democratizar a arte, tanto para o artista que nem sempre sabe trilhar o seu caminho, quanto para quem é apreciador. Fazemos um trabalho inovador para construção de carreira, com estratégias especificas. Normalmente, o mercado de arte é fechado, elitista e pouca informação é passada. Nós, temos quebrado esse tabu, eliminando a forma rebuscada da escrita e o mofo que resiste há anos. Por isso a ideia de oferecer o serviço de aluguel. É muito mais dinâmico! Vivemos hoje um mundo mais sustentável, alugar uma obra de arte é uma maneira indireta de ajudar o sistema e uma forma mais econômica para quem aprecia e deseja ter uma obra de arte”, finaliza.

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