SP-Arte retoma atividades presenciais em formato híbrido

O Festival Internacional de Arte de São Paulo conta com a participação de 124 expositores, entre galerias de arte e design, editoras especializadas, museus e projetos especiais

A 17ª edição da SP-Arte, o Festival Internacional de Arte de São Paulo, acontece de 20 a 24 de outubro na ARCA, galpão de 9 mil metros quadrados localizado na Vila Leopoldina, em São Paulo. O evento, que teve sua mostra presencial cancelada no ano passado por conta da pandemia, retomará as atividades presenciais em formato híbrido, mantendo o Viewing Room, espaço digital da SP-Arte criado para apresentar uma consistente atuação online através do site da feira.

“No ano passado a SP-Arte presencial acabou sendo cancelada às vésperas da montagem por conta da pandemia. Foi bem complicado porque os trâmites já haviam sido iniciados e algumas galerias estrangeiras já tinham até mandado as obras para cá. Chegamos a pensar que tudo se resolveria em 30 ou 40 dias, mas quando percebemos que isso não aconteceria precisamos voltar toda a nossa energia para fazer um evento online e criamos o que hoje chamamos de Viewing Room”, relembra Fernanda Feitosa, fundadora da SP-Arte.

A idealizadora e diretora do evento optou por unificar os dois formatos, online e presencial: “Esse ano optamos por fazer um evento híbrido, com uma versão menor de nosso evento presencial que costumava ser na Bienal e mantendo a plataforma virtual, porque o online terminou nos abrindo alguns horizontes. Tivemos um ganho de público, de audiência, de qualidade da informação e de alcance. O número de pessoas que visitaram a plataforma online da SP-Arte não foi apenas maior quantitativamente, mas foi também um público muito mais pulverizado, de diversas localidades no Brasil e no exterior. Então o virtual abriu um universo muito positivo, eu acho, que soma à experiência presencial”.

Fernanda acredita que a experiência virtual terminou democratizando o acesso ao evento e à arte em geral e fala sobre a importância de manter o evento online: “É claro que a gente vive num país com desigualdades brutais, onde não podemos assumir que uma parcela expressiva da população tenha, de fato, acesso à internet. Mesmo assim acredito que houve um avanço no consumo de cultura e arte com o acesso facilitado. Além disso, a retomada consciente e segura é fundamental para que ela seja permanente. Não quero me render à tentação de voltar para o presencial e abandonar um aprendizado que no final das contas foi muito positivo, porque o alcance e a abrangência do online são muito transformadores. Perder este alcance ou esta audiência seria uma bobagem, um erro de estratégia”.

“O que precisamos agora é trazer o online para participar da energia que se cria no corredor de quem está no presencial. Para isso criamos toda uma estratégia para mostrar vídeos e conteúdos de um universo inteiro de 40 participantes que não estarão na feira presencialmente e vice-versa. Quem estiver no galpão, além de ser convidado a visitar online as galerias que não estão ali, poderá também encontrar depois no ambiente virtual informações a mais sobre o que viu presencialmente, e quem estiver no online também terá acesso às versões digitais das galerias que estarão expondo de maneira presencial. A experiência vai ser somada”, diz ela. 

Tradicionalmente, a SP-Arte reúne nomes importantes da arte contemporânea para discussões aprofundadas durante seus eventos, que fomentam a arte e a cultura. A programação desta 17ª edição promoverá atividades semipresenciais. Antes do evento, o MJournal visitará o ateliê de artistas para um bate-papo exclusivo sobre processo artístico em seus locais de criação, fazendo uma cobertura especial no evento, com comentários de bastidores. Os vídeos serão veiculados no Instagram e no site da feira, que também disponibilizará cinco audioguias para uma experiência imersiva, desenvolvidos pelos pesquisadores Frederico Coelho e Camila Bechelany, e promoverá a quarta edição do Cápsulas, uma realização da Galeria Jaqueline Martins com o intuito de articular pensadores nacionais e internacionais que abordam temas da contemporaneidade como meio-ambiente, política e direitos civis dentro do contexto das artes. A transmissão desses debates será feita ao vivo pelo canal do YouTube da SP-Arte.

“Integrar o online e o presencial foi o maior desafio, no sentido de imaginar qual seria a jornada de uma pessoa voltada à arte e à cultura voltando à feira depois de um ano sem eventos presenciais como o nosso. O consumo de cultura em geral é bastante centrado na potência do encontro, e tivemos que pensar sobre como o online poderia contribuir para que esse encontro se tornasse mais potente. Nós chegamos à conclusão que, pelo menos aqui na SP-Arte, isso poderia ser feito através do conteúdo abrangente. Reunimos uma abundância de textos, uma abundância de conteúdo visual e auditivo, e isso propiciará uma experiência imersiva”, revela Fernanda.

O Viewing Room dessa edição expande os limites físicos e reúne galerias de arte, design e uma rede de projetos especiais que integram a SP-Arte exclusivamente no meio online. Para integrá-lo com o evento presencial, uma série de QR Codes e sinalizações transportam os visitantes da ARCA para as galerias que participam do evento digital. Além disso, especialistas convidados como Ricardo Sardenberg, Catarina Duncan, Tiago Mesquita e Pollyana Quintella, farão curadorias, que destacarão obras apresentadas nos ambientes presencial e online, reunidos sob temas livres.

“Para o Viewing Room o desafio maior é a experiência. Ninguém quer só ver uma obra. Ver a obra a gente vê todo o dia no Instagram ou em sites. Então, como é que você melhora essa experiência, tornando-a mais sexy e atrativa? Para isso criamos páginas editoriais de cada galeria. Cada uma delas criou um projeto expositivo especialmente para a SP-Arte, que pode ter conteúdos diversos, desde a apresentação de seu acervo, até um projeto de uma apresentação individual de um artista, um diálogo entre dois artistas, vídeos, áudios e tudo mais que pudesse ser relacionado às obras. Para a gente é muito importante o conteúdo, porque a SP-Arte é fundamentalmente um evento de formação de público. Então essa formação de público não seria completa se apenas jogássemos um álbum de figurinhas e os preços para você comprar. A experiência precisa ser mais ampla do que isso”, explica a idealizadora da feira.

Quanto à curadoria da feira, Fernanda explica que ela é feita pelas próprias galerias, mas termina sempre permeando temas atuais, porque é isso que a própria arte faz constantemente: “A SP-Arte tem tantos curadores quanto o número de galerias que participam na feira. Cada galeria tem sua própria curadoria, porque cada uma delas representa artistas e, de certa maneira, uma estética, uma linguagem que é particular daquele galerista. No entanto há vários temas que perpassam a SP-Arte ao longo dos anos, e que são temas que nos são caros. Buscamos sempre uma diversidade racial e de gênero, além de procurarmos também dar oportunidade para artistas em início de carreira. Os temas políticos e os temas socioambientais também são importantes para a gente e procuramos dar vazão a essa nossa postura através do material editorial que produzimos no nosso site”.

Para esta edição, está confirmada a participação de 124 expositores, entre galerias de arte e design, editoras especializadas, museus e projetos especiais que reencontram o público ávido por arte. “A SP-Arte contribui e é parte essencial do calendário cultural de São Paulo, além de ser integrante ativa da retomada dos grandes eventos de cultura da cidade, com todos os protocolos necessários para uma visita confortável e segura. Eu acho que em qualquer momento a arte é fundamental para a sobrevivência do ser humano, porque a arte é transformadora. Através da arte a gente se permite olhar o mundo através de outros olhos, outras visões, outras perspectivas individuais ou coletivas. É uma janela que nos permite vivenciar outras experiências e a nossa própria. É um estímulo através da produção cultural, é um estímulo à reflexão dos temas que estão ao nosso redor”, finaliza Fernanda.

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