Região central de São Paulo retoma status de polo artístico brasileiro

Com a abertura de novas galerias, que se juntam às já existentes na região, o centro paulistano tem atraído colecionadores, curadores e diretores de instituições artísticas

Foi no centro de São Paulo, mais especificamente no Teatro Municipal, que a Semana de Arte de Moderna de 1922 revolucionou o cenário das artes no Brasil. Totalmente focado em um novo ponto de vista estético e no compromisso com a independência cultural do país, o movimento modernista liderado por nomes como Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, e Villa-Lobos, foi um verdadeiro divisor de águas para a cultura brasileira.

Quase 100 anos depois, a região central da capital paulista voltou a ter ares de polo do mercado artístico brasileiro, graças a inauguração de novos espaços dedicados à arte, abertos por lá nos últimos meses. Tanto no Centro, como em seu entorno, é possível encontrar diversas galerias com obras de diferentes estilos e ainda descobrir novos artistas que estão despontando no cenário das artes.

Em um galpão de 500 metros quadrados com paredes de tijolos aparentes, na rua Brigadeiro Galvão, na Barra Funda, por exemplo, está estabelecida a nova Usina Maluf, que oferece para artistas iniciantes um programa de residência com duração de seis meses. Ao final do processo, os artistas têm suas obras expostas no próprio espaço, fundado e financiado pelo galerista Luis Maluf, bastante conhecido no circuito paulistano.

Próximo dali o espaço Delirium, montado em um sobrado na Vila Buarque, é palco de exposições de trabalhos experimentais, e de obras de artistas que saíram há pouco da universidade ou que não estão ainda completamente inseridos no mercado. Fundado recentemente pelos artistas Bruno Baptistelli e Tiago Malagodi, o espaço promete no mínimo seis exposições por ano.

Já a galeria HOA, na Rua Amaral Gurgel, é a primeira galeria fundada e dirigida por pessoas pretas no Brasil. Dedicada à arte contemporânea latino-americana, o espaço abriga obras de artistas jovens, oriundos de comunidades minoritárias normalmente menos presentes no circuito de arte. Há 700 metros da HOA, na Av. São Luís, a galeria Verve abriu sua nova sede no Edifício Louvre. Dirigida pelo artista Allann Seabra e o arquiteto Ian Duarte Lucas, a galeria é abrigo para diferentes plataformas de experimentação da arte contemporânea.

O circuito de galerias que vem se estabelecendo no centro paulista, já contava com outros espaços, como a Jaqueline Martins, um espaço de pesquisa, documentação, fomento e exibição de produção artística contemporânea, que propõe estratégias curatoriais colaborativas, para fomentar o diálogo entre diferentes gerações e distintas perspectivas culturais.

Já a galeria Central, que se mudou da Vila Madalena para o subsolo do prédio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, na República, em 2018, apresenta um programa que busca integração com a cidade com intuito de transbordar do espaço expositivo para o entorno da galeria. Sob diretoria de Fernanda Resstom, o espaço tem o compromisso de difundir e manter vivas reflexões sobre a arte contemporânea no Brasil.

Estabelecido no centro de São Paulo há um pouco mais de tempo, o centro cultural Pivô, localizado no lendário edifício Copan, atua como plataforma de intercâmbio e experimentação artística desde 2012, com objetivo de fomentar e divulgar a produção artística local e criar um espaço livre e aberto para a interlocução entre diversos agentes do campo da cultura contemporânea, em esfera nacional e internacional.

Coincidentemente ou não, perto dali, em Higienópolis, uma grande exposição ocupa o histórico Palacete Stahl, sede do Instituto Artium. Chamada de Semana de 21, a mostra tem obras de artistas de diversas gerações que fazem uso de diferentes linguagens e mídias e promovem uma reflexão do momento atual e do retorno à normalidade em um mundo pós pandêmico. Para quem gosta de arte e quer conhecer as novidades da produção cultural efervescente, um passeio pelo centro da cidade voltou a ser tão indispensável quanto era em 1922!

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