MuBE discute impactos das mudanças climáticas por meio da arte na mostra ‘Por Um Sopro de Fúria e Esperança’

Com manifesto assinado por especialistas da área ambiental, a mostra evidencia para o público, por meio da arte, a urgência da mudança cultural e de hábitos para a construção de um modo de vida sustentável. 

Com claro objetivo de escancarar os impactos das mudanças climáticas e seus desdobramentos sociais, históricos, políticos e ambientais, a exposição Por um Sopro de Fúria e Esperança fica em cartaz no MuBE, Museu Brasileiro de Escultura e da Ecologia, até 6 de março. Com curadoria de Galciani Neves (curadora chefe do MuBE) e Natalie Unterstell (especialista em políticas públicas e mudanças climáticas, e membro da Comissão Ambiental do MuBE), a mostra resgata de maneira definitiva o viés ecológico do museu, que havia sido deixado de lado por alguns anos.

“Um dos principais pilares do projeto de revitalização do MuBE, iniciado em 2016, foi resgatar a questão da ecologia presente na criação da instituição como Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia. Desde então, tendo como curador-chefe do MuBE à época Cauê Alves, começamos a nos aprofundar nos assuntos ambientais em diálogo com a arte, inserindo em nossa programação, exposições com temáticas centradas na questão ambiental. Com a COP 26 prevista 2021 tendo como tema central as mudanças climáticas, desde 2019 já havíamos decido, a partir de conversas com Roberto Klabin, ambientalista fundador da SOS Mata Atlântica e Conselheiro do MuBE, que o tema da exposição de cunho ambiental de 2021 seria o mesmo da Conferência da ONU, por sua urgência e relevância”, explica a diretora-presidente do MuBE, Flavia Velloso.

A curadoria da exposição partiu “da escuta a diversas cosmovisões”, segundo Flavia, trazendo para a mostra não somente trabalhos de artistas, como também de ativistas, ambientalistas, cientistas, pesquisadores e escritores, que apresentam suas visões, obras e registros em favor da proteção e da regeneração do meio ambiente. Dividida em duas fases, a exposição apresentou em seus primeiros 20 dias, como uma provocação, uma grande instalação cenográfica, criada pela própria Flavia Velloso e Ary Perez, onde a grande sala do museu foi literalmente inundada, enquanto o espelho d’ água da área externa do MuBE foi secado.

“Chamada “Inundação”, a instalação propôs um ‘redesenho geográfico’ temporário no museu, trazendo para o público a sensação de um dos efeitos adversos que as mudanças climáticas provocarão com o irreversível aumento do nível do mar e a alteração no regime das chuvas”, conta Flavia. Em sua segunda fase, a mostra seguiu com obras como “O poderoso pajé Ñapirikoli expirando a fumaça do cigarro, fazendo com que as coisas apareçam no mundo” de Feliciano Lana; “Chove chuva” de Rivane Neuenschwander; “Globo da Morte” de Tatiana Blass, “Arquivo de Vozes Caladas” do coletivo Dulcinéia Catadora; o vídeo “Tierra” de Regina José Galindo; os desenhos em tinta acrílica sobre papel de Aislan Pankararu, entre muitos outras.

Além da exposição, o MuBE também criou um Manifesto de Declaração de Emergência Climática, que tem como signatários importantes especialistas em mudanças climáticas, como Carlos Nobre, José Marengo e Andrea Santos. “Quando se trata da questão ambiental, para abordá-la de forma séria e pertinente, consideramos ser muito importante esse contato próximo com a ciência. No caso do Manifesto de Declaração de Emergência Climática, uma questão tão séria e urgente, mas infelizmente nem sempre debatida com base na ciência, para que o mesmo tivesse o peso necessário para a dimensão do problema era muito importante contar com o aval de renomados pesquisadores da área”, afirma Flavia.

A exposição de natureza educativa propõe construir elos e diálogos entre as reflexões, pesquisas e trabalhos de artistas, ambientalistas, cientistas e ativistas, em sua maioria brasileiros e latino-americanos. São cinco as questões fundamentais para o debate usadas como eixos conceituais para a espacialização das obras no MuBE: águas, queimadas e desmatamento, redesenho geográfico, crítica aos modelos de desenvolvimento intensivos em carbono e ações para a transição. “A hora da mudança cultural e de hábitos para a construção de um modo de vida sustentável tem que ser agora, ou poderá ser tarde demais. Por isso, a importância de realizarmos uma exposição com essa temática, neste momento como forma de aproximar o público desse tema tão urgente, que precisa de uma mudança de mentalidade, de ação e de engajamento de toda a população do planeta”, argumenta explica a diretora-presidente do MuBE.

“A arte emociona, nos toca e nos faz refletir, sendo uma forma essencial de expressão do ser humano. Acreditamos que a arte pode ser um bom meio de aproximação para o público de assuntos complexos como as mudanças climáticas e a crise ambiental pela qual passamos, exatamente por ter a capacidade de tocar e emocionar as pessoas. No caso da exposição Por um Sopro de Fúria e Esperança há uma intenção de natureza educativa ao trazer para o público diálogos entre o pensamento, pesquisas e obras de artistas, ambientalistas, cientistas e ativistas de assuntos fundamentais que dialogam com a história da criação do Museu, que pode ser considerado o primeiro movimento pelo verde na cidade de São Paulo, já que ele surgiu de um movimento de milhares de cidadãos a favor da preservação da qualidade de vida e do verde em uma região central da cidade de São Paulo, finaliza Flavia.

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