Moda durante e pós-pandemia: as principais tendências globais e a necessidade de reinvenção

A transformação digital foi acelerada e se tornou obrigatória, e o consumo consciente se transformou em realidade. Enquanto o mundo enfrenta a pandemia do novo coronavírus, a indústria da moda precisa se reinventar para não perder relevância.

Autocuidado, sanidade mental, conforto, consciência social, empatia, solidariedade e sustentabilidade são algumas das principais palavras de ordem do momento. A crise mundial desencadeada pela pandemia de Covid-19 abriu espaço para uma verdadeira uma revolução comportamental. As pessoas estão revendo suas prioridades, e o resultado disso é uma abrupta transformação de hábitos de consumo. O que era tendência virou realidade do dia para noite e as empresas que não tinham dado início às mudanças necessárias para se adaptarem a tais demandas estão sendo obrigadas a fazê-lo.

A economia criativa, afetada significativamente por todas as transformações causadas pelo novo coronavírus, tem urgência em se reinventar e a indústria da moda é um dos setores mais afetados. Além dos shoppings, lojas e centros comerciais fechados, as mudanças de comportamento dos consumidores também fizeram com que grandes e pequenas marcas precisassem repensar suas trajetórias.

A transformação digital foi acelerada forçadamente em muitas empresas que ainda resistiam ao universo online. Assim como o mais resistente dos consumidores precisou se render ao e-commerce, por conta da recomendação para ficarmos em casa. Quase 40% dos compradores online de hoje realizaram sua primeira compra pela internet no mês de março deste ano, de acordo com estudo da SmartCommerce, importante plataforma de comércio eletrônico. Apesar de ser um dos três setores (junto à aviação e turismo) mais suscetíveis à queda da comercialização, de acordo com um levantamento da Câmara de Comércio Internacional, a indústria da moda tem se reinventado criativamente e investe em possibilidades de crescimento digital.

Tanto para as grandes quanto para as pequenas marcas, o ritmo e as temporadas de desfiles também foram repensados. Diferentes grifes e estilistas precisaram exercitar a criatividade e comunicaram mudanças não apenas nas agendas, mas principalmente nos métodos de suas apresentações. O italiano Giorgio Armani, por exemplo, foi o primeiro a realizar um desfile “a portas fechadas” em Milão e adiou um evento que aconteceria em abril, em Dubai, para novembro. A marca Valentino programou um desfile digital em Paris para setembro, e a Gucci já anunciou uma mudança de “códigos de linguagem e plataformas de comunicação”.

As grandes companhias também perceberam a importância de se mobilizarem para ajudar a combater o coronavírus. A H&M, segunda maior varejista de moda do mundo, começou a produzir aventais de proteção para entregar um milhão de peças ao sistema de saúde sueco. A rival Inditex, dona da marca Zara, também passou a fabricar suprimentos médicos para ajudar no combate à pandemia, e a grife de luxo francesa Christian Dior anunciou que está produzindo máscaras faciais para trabalhadores de supermercados e de outros setores que são obrigados a continuar atuando durante a crise. E esses são apenas alguns dos muitos exemplos de ações solidárias promovidas por grandes empresas. Ser relevante se tornou imprescindível. Para se manter importante, o vestuário precisará estar ainda mais associado à arte e a propósitos significativos.

As pequenas marcas, por sua vez, criaram plataformas colaborativas e investiram em iniciativas sustentáveis de slow fashion, umas das principais tendências de moda aceleradas pelas mudanças de hábitos e pelo aumento do consumo consciente, que é outra forte tendência amplificada pela pandemia. Marcas criativas e pequenos empreendedores que vendem roupas e acessórios de fabricação própria ganharam espaço graças à preocupação dos consumidores com toda a cadeia produtiva. O trabalho, a mão de obra e a indústria justa passaram a ser mais valorizados do que nunca, já que a maneira como consumimos assumiu novos contornos sociais. Dar condições dignas e justas para os profissionais envolvidos na confecção das peças tem se tornado uma exigência do consumidor.

 Todas as questões relacionadas ao meio ambiente, como descarte de resíduos e economia circular, também passaram a ser um fator importante para os consumidores na hora de escolher o que comprar. As pessoas estão buscando transparência e coerência nos valores das marcas que escolhem, e a sustentabilidade é um tema em voga. Para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa realizada pela consultoria de inteligência de mercado Iemi, cerca de 60% dos consumidores afirmaram que deixariam de comprar de sua grife preferida se ela estivesse envolvida em algum escândalo social ou ambiental.

As compras por impulso, a procura por marcas de luxo e a ostentação sem medida como símbolo de status estão sendo fortemente revistos. Tanto que o mercado de aluguel de roupas (Rent the runway), os brechós e os guarda-roupas compartilhados em redes sociais são empreendimentos em alta, e as marcas nacionais ganharam apoio de consumidores que antes investiam em grandes grifes internacionais.

Outra tendência de moda antecipada pela pandemia é a do conforto. A reflexão gerada pela crise prioriza temas como a importância de se estar perto de quem se ama e a maneira como o tempo é aproveitado, e faz com que as pessoas revejam a necessidade de ter um guarda-roupa cheio e também questionem o sentido de alguns hábitos de beleza e vestuário. Se sentir bonito é importante para a autoestima, porém o conforto ganhou novo significado, e passou a ter maior relevância com a necessidade de isolamento na quarentena. Não podemos sair e aparecer o tempo todo, e dentro de casa, peças mais confortáveis se tornam protagonistas. Não são poucas as marcas que usaram uma estética inspirada na vida ‘indoor’ para criar suas novas coleções.

Resumindo, é agora o melhor momento para que as grandes e pequenas empresas de moda revejam seus valores, busquem sua essência e tentem se conectar de maneira genuína com o consumidor. É preciso reformular criativamente os conceitos e mecanismos para ser manter vivo durante a crise. Não há como saber com exatidão como será o futuro do mercado numa realidade pós-pandemia, já que situações disruptivas tendem a provocar resultados imprevisíveis. Porém, a preocupação das pessoas com os valores das marcas e com o consumo consciente já é uma realidade que precisa ser respeitada, principalmente quando levamos em conta a importância social da moda. Em um ‘novo mundo’ em que a busca pelo bem-estar e a solidariedade se transformaram em prioridades, quem não se adequar e tratar de gerar um impacto positivo nas pessoas e na sociedade, engajando-se de maneira verdadeira e criativa, perderá relevância e consequentemente seus consumidores e seu valor.

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