Festival multimídia transforma empena de prédio em palco para arte durante pandemia

Com o objetivo de amenizar o peso da quarentena e levar cultura para quem está dentro de casa, o MOV FESTIVAL se reinventou e passou a ser totalmente digital a partir de sua 4ª edição

Criado pelo produtor cultural Daniel Martins em 2010, o MOV FESTIVAL nasceu a partir da proposta de movimentar a cena artística independente por meio de um festival de artes integradas. A primeira edição foi realizada dentro de um cinema subterrâneo, no Bairro da Glória no Rio de Janeiro, e contou com apresentações de bandas e VJs, além de uma mostra de curtas metragens nos intervalos. Em função da crise gerada pela pandemia de coronavírus no Brasil, o evento precisou se reinventar para a sua 4ª edição, que aconteceu no último mês de junho, no Humaitá, na capital carioca.

“Com a chegada da pandemia, eu precisei pensar em novas maneiras de fazer o festival acontecer. Tive a ideia de retomar o projeto como uma tentativa de amenizar o peso do confinamento, e convidei a VJ e artista visual Luv para fazer experimentos de projeção de suas animações da minha janela. Ficamos entusiasmados com a experiência e com a resposta de alguns vizinhos, e decidimos adaptar o MOV para o formato digital. A empena de um prédio na Rua Maria Eugênia, na frente do meu apartamento, se tornou nosso palco. Percebemos que durante a quarentena as pessoas estavam muito abastecidas de notícias nada animadoras e queríamos levar arte para suas janelas e pra dentro de suas casas, para aliviar o peso deste momento complicado que estamos vivendo”, conta Daniel.

Em sua primeira edição totalmente virtual, projetada na parede lateral do edifício vizinho ao de Daniel, o MOV FESTIVAL teve sua programação permeada por diferentes tipos de artes visuais, galerias projetadas, cinema e música. “Todo o evento foi transmitido ao vivo nas nossas redes sociais para as pessoas poderem curtir arte sem sair de casa. Como o festival é feito a partir de intervenções urbanas, o espectador pode ter a sensação de estar na rua durante a transmissão”, explica Luv.

Um dos temas abordados pela 4ª edição do MOV FESTIVAL foi a importância de darmos atenção às questões ambientais. “Um dos conceitos do festival é trazer o tema ambiental através das artes, a fim de causar uma reflexão e conscientização sobre o assunto. Entre os artistas que expuseram seus trabalhos na primeira edição totalmente digital tivemos o fotógrafo de povos indígenas Marcelo Monzillo, e o artista plástico Guilherme Gallé, que explora a identidade dos seres humanos com objetivo de desconstruir as individualidades”, diz Daniel.

Além de trabalhos desses e de diversos outros artistas visuais, desde profissionais que estão começando agora até artistas que já têm a carreira consolidada, a edição também contou com projeções de filmes escolhidos pela Filmambiente (Festival de Cinema Ambiental), e apresentações dos músicos Fran Gil e Duda Beat.

O sucesso da versão digitalmente reinventada do MOV FESTIVAL foi tão grande, que desde então o festival já teve mais três novas edições, com projeções de diferentes trabalhos multimídia, e Daniel planeja torná-lo mensal. “O público tem reagido com muito carinho, sempre elogiando o projeto. Temos no prédio alguns vizinhos que não perdem uma edição, e artistas de diferentes lugares do Brasil e do mundo nos agradecem por terem suas obras expostas em um prédio no Rio de Janeiro. Todos ressaltam a importância e a necessidade, não só em tempos de pandemia, mas em todos os tempos, de fomentar, descentralizar e valorizar a cultura e seus produtores de forma inovadora e criativa. Muitos também têm comentando que as nossas lives ajudam a matar parte da saudade de um ‘rolê’ cultural”, comemora o idealizador do projeto.

No próximo dia 18 de outubro, acontece o Redley Mov Festival, resultado de uma importante parceria do MOV FESTIVAL com o Redley Garagem, um projeto de incubação de artistas independentes promovido pela marca Redley. A exposição colaborativa promoverá oficinas criativas gratuitas para criadores selecionados de diferentes regiões do Brasil. Os 24 artistas escolhidos passarão por mentorias com profissionais renomados durante o processo criação de uma obra digital e o resultado final destes trabalhos será apresentado por meio de projeções durante o festival no Rio de Janeiro.

Questionada sobre a importância da arte em um momento de crise mundial, Luv diz acreditar que as manifestações artísticas podem cumprir diversos papéis durante a pandemia: “A arte tem sido um grande respiro. Os noticiários e a maioria das matérias que vemos são focados na pandemia, o isolamento social não tem feito bem pra saúde mental de muitas pessoas, e nesse contexto a arte tem se tornado um refúgio saudável para o momento. Ao mesmo tempo, ela também está presente nos protestos, sendo porta-voz de diversas iniciativas, críticas e reflexões sobre esses tempos”.

Enquanto a crise não passa, o MOV FESTIVAL segue investindo no digital para manter a arte e a cultura acessíveis às pessoas durante esses tempos de isolamento. “A relação mais próxima com o público é uma incógnita no momento. A projeção não é uma manifestação artística recente, mas durante a quarentena sua relevância social passou a ser muito maior. A realidade virtual também se tornou mais presente na vida de todos nesse momento. A pandemia acelerou o desenvolvimento tecnológico. O digital será muito mais forte a partir de agora. Acredito que as lives vieram pra ficar e muitas novas ideias de plataformas serão exploradas, como é o caso das projeções em empenas”, prevê Daniel. “O que temos observado é que, principalmente os artistas urbanos, vêem se adaptando ao digital. Todos estão buscando novas maneiras e técnicas para se expressar, utilizando o que têm disponível no momento, sejam objetos dentro de casa, seja o computador, uma ferramenta nova… No final, as impossibilidades impulsionam a criatividade para que possamos todos nos reinventar”, finaliza Luv.  










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