Exposição em formato híbrido reúne obras criadas no mundo todo durante a pandemia

A Mostra Museu exibirá obras de arte de diferentes linguagens em mobiliários urbanos em São Paulo e, simultaneamente, em uma plataforma digital ao alcance de todos

Em formato híbrido, presencial e online, acontece durante o mês de abril, em São Paulo, a Mostra Museu, exposição que reúne obras produzidas por artistas que utilizam diferentes linguagens, sejam elas ligadas às artes plásticas, ao design gráfico, ao cinema, à animação ou à música. Com curadoria de Ana Carolina Ralston e co-curadoria do The Covid Art Museum (CAM), o evento idealizado pela Amarello Projetos Integrados conta com uma seleção da produção artística criada no Brasil e no mundo desde o início da pandemia.

Serão desenhos, esculturas, fotografias, grafites, gravuras, pinturas, poesias visuais, videoarte, colagens e instalações de artistas internacionais do acervo do CAM e de artistas brasileiros selecionados via inscrições, além performances de artistas de países como Alemanha, Brasil, Cuba, Emirados Árabes, Filipinas, Itália, Índia, Líbano, Paquistão, Ucrânia, dentre outros.

As obras poderão ser visitadas na plataforma digital e também serão instaladas em mobiliários urbanos espalhados pela cidade de São Paulo. Todas as criações terão um QR Code por meio do qual o público terá acesso a vídeos com depoimentos dos artistas responsáveis por elas, contando sobre como cada trabalho que compõe a mostra foi criado.

A parte musical tem curadoria e Pedro Henrique França e reúne em uma playlist músicas compostas desde o início da pandemia, tanto por artistas conhecidos como artistas novos que surgiram durante a quarentena. A coletânea sonora da Mostra Museu estará disponível na plataforma digital e via QR Code junto às obras expostas nos espaços públicos.

“A gente sempre ouviu dizer que a arte salva e ela tem, de fato, ajudado muitas pessoas neste momento terrível que estamos vivendo. O isolamento social chega a enlouquecer quase todos nós. A gente fica paranóico, com medo, se sente fora da realidade, são muitos sentimentos e a arte dá uma unidade pras pessoas. Por meio dela a gente percebe que está todo mundo com um sentimento muito parecido. Você vê uma obra que foi feita no Sri Lanka e percebe que ela poderia ter sido feita por um brasileiro, porque o sentimento é muito parecido, os medos são muito parecidos. A ideia da Mostra Museu é exatamente revelar o quanto nós todos estamos juntos e estamos ligados por esse elo, esse fio, além de comprovar que a arte pode realmente salvar, que ela tem essa habilidade”, explica Ana Carolina Ralston.

Para que a exposição conseguisse retratar que os sentimentos despertados pela crise de saúde são semelhantes no mundo todo, a produção do evento entrou em contato com o CAM, um museu internacional que já estava fazendo o trabalho de reunir obras criadas em diversos países desde o início da pandemia. Depois de selecionadas as obras internacionais, as inscrições para artistas brasileiros interessados em ter suas obras expostas na mostra foram abertas e Ana Carolina se surpreendeu com o retorno que teve: “A gente recebeu mais de mil obras de brasileiros em poucas semanas. A gente tinha 200 mobiliários urbanos para ocupar e chegamos a receber 200 inscrições por dia. Foi muito legal ver a adesão de pessoas de vários tipos e de todas as áreas mandando projetos e fazendo seus relatos. Todo esse material continuará sendo exposto no Instagram mesmo depois que a mostrar terminar e for para outros estados”.

Para escolher as obras que fariam parte da Mostra Museu, a curadora se baseou na época em que os trabalhos foram feitos e na facilidade de compreensão de cada peça. “A ideia sempre foi alcançar o grande público, então se fossem obras muito herméticas, acho que poderia acontecer uma exclusão de uma faixa da população. Por isso, priorizamos obras que se comunicassem com o maior número possível de pessoas, com linguagem bem visual. Como estamos trabalhando com mobiliários urbanos, as pessoas terão apenas alguns segundos para entender as obras e elas não podem ser complicadas. Às vezes a pessoa vai passar pela obra, vai olhar, escanear o QR Code e vai embora assistindo o filme do artista no caminho dela. Então escolhemos obras que trabalham com linguagens simples”, explica a curadora.

O tema de todas as obras é exatamente o momento que estamos vivendo e o foco da curadoria foi baseado na diversidade de linguagens: “Nem todas as obras são tão óbvias, há artistas que fizeram trabalhos mais abstratos, claro. Há, por exemplo, uma obra que retrata uma cabeça explodindo, que é como o artista estava se sentindo em meio à pandemia. Então é meio subjetivo, não dá pra gente fazer todo mundo entender todas as obras. Mas a ideia central é que todas elas tenham relação com o momento atual. Também buscamos uma gama grande de áreas artísticas. Era importante ter performance, arte digital, videoartes, fotografia, pintura, esculturas… Nós buscamos essa abrangência e um certo equilíbrio entre as diferentes linguagens, para que houvesse um pouco de cada uma delas. Também buscamos obras que não fossem exclusivamente feitas por artistas. Muitas são de artistas e temos artistas conhecidos, o que é muito legal. Mas muitas obras não foram feitas por artistas. Queremos mostrar que a criação vem de todas as áreas, ela é intrínseca do próprio ser humano”.

Ana Carolina faz questão de frisar que uma exposição com a abrangência que a Mostra Museu terá precisa de muitas pessoas para acontecer e que cada uma delas é artista de alguma maneira. “É claro que tem uma pessoa que tem a ideia inicial, mas para uma coisa acontecer, ela precisa de várias pessoas, não apenas dos artistas. Muitas vezes você ama arte e acha que quer ser artista, mas você pode ser um ótimo produtor artístico, ou um analista de redes sociais especializado em arte, ou tradutor que traduz textos artísticos. Existem várias formas de você ser artista e trabalhar com arte. Para uma mostra dessas, com um alcance desse tamanho, acontecer precisamos de várias pessoas. Vai muito além do artista e do curador. Eu mesma cheguei a fazer curso na Panamericana. Fiz o básico de Arte de Design por um ano, e isso me ajudou a entender que eu não era artista, mas queria trabalhar com o mercado de artes. Aí eu fui pro jornalismo e hoje sou curadora de arte. Por isso acho importante lembrar que a arte é composta por vários segmentos”, ressalta ela.

Sobre a importância da arte em momentos de crise como o que estamos vivendo, Ana Carolina é categórica: “A cultura é uma parte importante da nossa formação como seres humanos e como comunidade, então, a gente conseguir manter isso é uma forma de combater o que está acontecendo e de manter a sanidade mental. Lutar para estar vivo em um período tão difícil requer ferramentas e a arte é uma delas. A arte ajuda a gente a manter a mente sã. Por meio dela conseguimos extrapolar e colocar pra fora a ansiedade e tudo o que o isolamento social causa física e emocionalmente na gente. Além de ser uma forma de documentar a história e  uma maneira e expor o que está acontecendo no mundo. A arte é fundamental”.

Gostou? Compartilhe!