Ex-aluno da Panamericana, Claudio Cupertino tem trajetória retratada em documentário

O artista, que nasceu no interior de Minas Gerais e veio para São Paulo em busca de um sonho, é hoje reconhecido por seu trabalho em todo o mundo.

Quando saiu da pequena cidade de Pedra do Anta, onde nasceu, no interior de Minas Gerais, Claudio Cupertino sonhava em estudar teatro e se tornar um ator de sucesso em São Paulo. Até então, longe dos grandes centros e sem acesso à internet, seu único contato com o universo da arte e cultura havia sido por meio da TV. Aos 18 anos, recém-chegado na capital paulista, o mineiro terminou desviando sua rota ao se apaixonar pelas artes plásticas. “Quando eu cheguei em São Paulo eu tive um choque cultural. Eu conheci galerias e museus como o MASP, e comecei a me encantar por exposições de arte. A partir daí meu caminho mudou completamente e o sonho de ser ator nunca mais existiu”, conta ele.

O primeiro passo para a construção de sua bem-sucedida carreira como artista plástico foi se matricular na Panamericana. De origem humilde, Claudio escolheu a escola por questões práticas, como a proximidade à sua casa e trabalho, e a flexibilidade dos horários do curso, que permitia que ele trabalhasse durante o dia e estudasse à noite. “Eu cheguei em São Paulo sem muitos recursos, vim morar com os meus tios, minha visão sobre a vida era outra. Eu morava e trabalhava muito perto da escola, então tudo foi muito oportuno. Eu escolhi estudar a arte e foi a arte que me transformou em alguém. Isso é muito importante. Sinto que minha obra e minha carreira me fizeram ser alguém”, relembra.

Foi na escola que o artista plástico começou a descobrir sua própria identidade e, apesar de no início da carreira ter vergonha de mostrar suas obras para outras pessoas, seguiu trabalhando para realizar seus sonhos: “A Panamericana me proporcionou coisas muito importantes durante a minha formação. Além da convivência, do contato com outros artistas e do ambiente artístico, que são coisas muito importantes, a escola tem o método de ensino focado na prática. A teoria e a história da arte são sim muito importantes, mas o exercício do fazer e o trabalho diário desenvolvem o artista. As aulas eram focadas no fazer e no processo criativo e isso foi muito importante para que eu me desenvolvesse como artista”.

Depois de se formar, Claudio se mudou para Porto Alegre, onde montou seu primeiro atelier e deu continuidade ao seu trabalho, usando pedras e esponjas para fazer suas obras sobre papel. De lá pra cá, o artista plástico já fez duas residências artísticas fora do Brasil, uma na Grécia, onde se aperfeiçoou em litografia, em 2012, e a segunda nos EUA, nas sedes do MoCA – Museu de Arte Contemporânea, em Cleveland e Los Angeles, em 2019. Com objetivo de tentar dar mais leveza às suas obras, Cupertino também desenvolveu sua própria técnica, utilizando esponjas desenvolvidas por ele mesmo, que batizou de cupergrafia. “É claro que existe uma inspiração, o meu trabalho foi todo construído pós residência artística na Grécia. Mas eu precisei criar minha própria técnica para marcar uma transição na minha carreira, para criar minha própria digital, em busca da minha identidade, minha marcação”, explica.

De lá para cá, o artista voltou a se estabelecer em São Paulo e teve seu trabalho internacionalmente reconhecido com premiações importantes como o Premio Gold (ONU), em 2016, o Prêmio Mundial de Arte Contemporânea de Paris, o Prêmio de 1° Lugar e Medalha de Honra no Salão Internacional de Arte Contemporânea de Paris, no Museu do Louvre, em 2017, e com o prêmio biênio Leonardo da Vinci em Florença, Itália, em 2018. “Nunca, em nenhum dos meus sonhos, eu imaginei que chegaria onde cheguei. Eu nasci numa cidade com apenas dois mil habitantes, no interior de Minas, e hoje tenho o privilégio de expor obras em locais reconhecidos mundialmente, expus na sede da ONU em Nova York, fiz três exposições no Louvre, sou muito grato por todas as oportunidades que tive”, diz.

A trajetória bem-sucedida de Claudio Cupertino chamou a atenção de Matheus Ruas, documentarista do canal History Channel, autor do premiado “Guerra do Paraguai”. O cineasta produziu o documentário “Energia Tempo Cupertino”, sobre vida e obra do mineiro, que foi lançado recentemente de maneira totalmente virtual por conta da pandemia. “Antes do documentário ficar pronto, eu obviamente imaginava lançá-lo numa galeria de arte, ou museu, junto com uma exposição. Mas diante do que aconteceu no mundo inteiro, quando as pessoas foram pegas de surpresa pela pandemia e precisaram ficar confinadas em casa, precisamos nos reinventar. Na época, eu conversei com o Matheus, com uma assessoria de imprensa e com todas as pessoas envolvidas e nós resolvemos que o ideal era mesmo lançar o documentário num formato digital. O filme estava pronto e não queríamos que ele ficasse parado. Além disso, decidimos aproveitar o momento em que a janela das pessoas para o mundo era a internet. Todos estavam em suas casas, então por que não fazer um lançamento virtual e dar a oportunidade para que as pessoas pudessem assistir com segurança?”, relembra.

No final das contas, o lançamento virtual, que não era o plano original, se tornou um sucesso: “Foi absolutamente maravilhoso porque o documentário teve uma visibilidade enorme no Instagram. Em 15 dias foram 250 mil visualizações, o que provavelmente não aconteceria se tivéssemos lançado em uma galeria, para um número muito mais limitado de pessoas. Eu fiquei muito feliz porque as pessoas da minha cidade, lá em Minas, puderam assistir o documentário que mostra Pedra do Anta, em tempo real comigo, no conforto de suas casas. E eu ainda tenho a possibilidade de fazer um lançamento de forma presencial quando for seguro. Inclusive, está nos planos da Secretaria de Cultura disponibilizar uma sala para a exibição do documentário, junto com a realização de uma exposição e o lançamento de um livro no ano que vem. Uma coisa não exclui a outra, elas podem se somar”.

A maneira como o documentário foi lançado não foi a única coisa que precisou ser reinventada na vida de Claudio por conta da pandemia. O artista mudou toda sua rotina de trabalho e terminou criando uma série de obras tendo a sua nova realidade como temática. “A pandemia me impactou muito. Eu estava voltando da feira Arco em Madrid, cheio de contatos e planos para expor por lá quando tudo no meio artístico parou. Só o que não parou foram as criações dos artistas. Como reflexão de momento de criação, a pandemia serviu de impulso para a reinvenção, a gente precisou tirar o melhor do ruim. O artista tem a alma muito sensível e se sensibiliza muito com o momento. Tudo isso é transmitido para as obras. Então, no apartamento em que eu estava vivendo confinado, eu passei a criar obras utilizando meu próprio rosto como molde pra esculturas, de certa forma tentando a minha visão e sentimentos sobre aquele momento. A partir desse olhar eu criei as obras Janus, que tem um rosto para um lado e um rosto para o outro representando o distanciamento, e Confinamento, que tem o molde do meu rosto dentro de uma cúpula de vidro, por exemplo. Tenho certeza que muitos trabalhos de muitos artistas foram criados durante a pandemia e futuramente serão expostos ajudando a marcar esse período. A história da arte acompanha a história da humanidade e isso é muito interessante”, reflete o artista.

Para quem é apaixonado por arte e tem medo de investir em uma carreira de artista plástico, Claudio Cupertino aconselha a conciliar diferentes carreiras. “Investir em um curso de artes é diferente de você fazer medicina, advocacia ou investir em outra carreira em que geralmente você terá um emprego. A arte não funciona assim. E eu escolhi me arriscar e vivo há muitos anos somente da arte. Só sei fazer arte. Mas eu lido e convivo com inúmeras pessoas que têm outras profissões e pintam também. Isso é muito comum. Muitas pessoas que não tiveram tanta coragem de apostar todas as fichas na arte também constroem um bom trabalho artístico por conta da necessidade de criar. Porque a arte não te abandona. Você pode até escolher uma outra profissão, mas quem tem a arte na veia vai ser um bom advogado, um bom médico, mas vai ser um bom artista também”, diz ele.

Praticar e se reinventar constantemente também são passos que Cupertino considera fundamentais para quem pretende investir nas artes plásticas. “Trabalhar é o melhor conselho que eu tenho para quem quer se tornar um artista plástico. A escola vai te proporcionar aprendizado, mas a criação vai depender do seu exercício diário. O que constrói o artista é o tempo. Ninguém começa se sustentando da arte desde o primeiro dia, é preciso construir uma carreira, leva um tempo. Mas é muito gratificante quando você chega lá. Outra coisa muito importante é a constante busca por evoluir e se reinventar, porque você não pode criar uma coisa só e parar. Eu amo o que eu faço e sou muito grato por estar sempre criando, com o olhar sempre voltado para a arte. Eu faço o que faço com tanto amor que nem percebo o tempo passando quando estou pintando, eu me entrego. É maravilhoso porque o trabalho do artista o transporta para muitos lugares. Eu estou em todos os lugares onde há uma obra minha. E saber que no futuro, quando eu não estiver mais aqui, minhas obras estarão, que meu trabalho ficará eternizado é algo incrível. Eu não poderia ter escolhido profissão melhor. Nada como fazer o que se ama”, finaliza.

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