Do Design Gráfico às Artes Plásticas: ex-aluno da Panamericana conta sua trajetória

Marcelo Tolentino começou sua trajetória de designer gráfico na Panamericana e hoje migrou para a área de artes plásticas

A relação de Marcelo Tolentino com a Panamericana teve início antes mesmo dele se tornar aluno do curso de Design Gráfico da escola. Filho de um engenheiro apaixonado por desenho, o artista plástico já sabia que a instituição faria parte de sua trajetória desde muito cedo. “Quando eu era pequeno, uma coisa que me marcou muito foram as trocas de desenho com meu pai. Ele gostava muito de desenhar e, sempre que podia, me dava de presente algum lápis diferente ou me trazia algum livro de pintura, porque era uma coisa que eu naturalmente gostava. Fui bastante incentivado nesse sentido. Meu pai morou no bairro do Paraíso durante a infância e adolescência dele, então ele tinha uma conexão forte com a sede da Panamericana, na esquina da Brigadeiro com a Groelândia. Ele falava sempre da escola, queria que eu estudasse lá. Quando eu tinha apenas 12 anos, fomos visitar a Panamericana para ver os cursos disponíveis. A idade mínima para que eu pudesse me matricular na escola era 14 anos. Foram 2 anos de espera sabendo que eu faria um curso que, na época começava pelo Básico de Arte e Design, para que depois eu pudesse escolher como seguir”, relembra ele. 

Assim que completou 14 anos, Marcelo finalmente começou a estudar na Panamericana e deu o primeiro passo para a construção de uma carreira bem sucedida, que começou na área de publicidade e o levou às artes plásticas: “Foi uma época muito legal. Eu era certamente o aluno mais novo da turma, já que tinha idade mínima. Foi uma experiência interessante porque eu convivia com pessoas mais velhas, algumas delas que já eram profissionais da área e outras que estavam buscando fazer transição de carreira. O curso tinha esse aspecto menos do hobby e mais profissional, que pra mim trazia uma seriedade”.

Na época, o hoje artista plástico optou por cursar Design Gráfico, apesar do encanto pelo desenho: “O curso de Artes Plásticas me agradava. Quando eu via os cavaletes em uma sala de aula mais aberta, aquilo me chamava bastante atenção. Mas a escola também fazia as exposições dos prêmios de Design e Publicidade, como Clio e Cannes, e aquilo fez meus olhos brilharem. Sempre haviam expostas peças que eram as vencedoras de premiações, e eu comecei a enxergar ali uma possibilidade que, na época, eu considerava mais como uma carreira do as artes plásticas. Eu achava que teria mais chances no mercado como publicitário e designer e decidi que esse era o caminho que poderia ser mais legal para mim”, conta ele. 

Na Panamericana, Marcelo aprendeu na prática tudo o que precisava para ingressar no mercado publicitário e foram esses conhecimentos que o fizeram estar um passo à frente quando escolheu fazer faculdade de Comunicação: “Foi na Panamericana que tive o meu primeiro contato com softwares profissionais de design e que eu usei pela primeira vez um Macintosh, que na época era aquele modelo branco arredondado. Para mim era uma coisa até meio surreal. Tive que trancar a escola um ano por conta de uma contingência familiar e quando eu entrei na universidade para estudar Comunicação Social, eu segui fazendo o último ano do curso a Panamericana junto com o primeiro ano de faculdade. O curso de Design Gráfico era sábado de manhã e eu conseguia conciliar. Foi muito interessante ter passado pela escola antes de começar a faculdade, porque eu tinha a vantagem de conseguir mexer nos softwares e de já estar um pouco mais adiantado em matérias que os meus colegas foram aprender só depois. Então a Panamericana me deu uma base que me ajudou bastante durante a formação em publicidade. E também na montagem do primeiro portfólio. Eu escolhi ir para a área de criação e direção de arte, e o fato de já ter tido que passar por isso com os trabalhos de conclusão de curso da Panamericana me deixaram mais tranquilo em relação a como montar meu portfólio para buscar uma vaga”.

Durante 10 anos, Marcelo Tolentino trabalhou em grandes agências de publicidade não apenas no Brasil. A carreira como diretor de arte, que teve início na extinta EC, de Valdir Bianchi e Eduardo Foresti, e passou pela Crispin Porter + Bogusky, nos Estados Unidos, pela AlmapBBDO e pela Wieden + Kennedy, se transformou em 2016, quando ele decidiu investir nas artes plásticas, sua antiga paixão. “Em paralelo à publicidade, sempre busquei cursos que tinham a ver com técnicas que me interessavam de óleo, aquarela, escultura. Quando saí da AlmapBBDO e fui para a Wieden + Kennedy eu já estava com a ideia de dar um tempo na cabeça. Queria focar mais nos trabalhos de escultura e pintura e colocar para caminhar alguns projetos pessoais que estavam parados. Foi nesse momento que eu comecei a fazer essa transição”, explica o artista plástico.

Atualmente, Marcelo ainda faz trabalhos pontuais para o mercado de publicidade, produzindo story boards e ilustrando para animações e peças gráficas, e diz que a Panamericana foi fundamental para sua carreira na área: “Eu nunca deixei de trabalhar como fornecedor do mercado de publicidade, nunca larguei esse laço. Eu acho que, durante o tempo que fui publicitário, as coisas que eu aprendi na Panamericana me ajudaram muito. Primeiro com as referências. A escola tinha as exposições com uma constância alta e isso foi me criando um repertório. Outra coisa importante foi a possibilidade de ter professores que eram do mercado. Na escola eu aprendi como fazer a operação de fato, como tangibilizar uma ideia usando o computador, edição de fotos e ilustração”.

Em seu trabalho como artista plástico, o ex-aluno da Panamericana valoriza os processos artesanais e foca na autoralidade: “Eu sei que a arte contemporânea tirou um pouco desse espaço, mas eu vejo a volta da valorização do processo de artesania, que é uma coisa que para mim é primordial. A relação com o material, a relação com todas as etapas do processo, desde a concepção até a execução, o cuidado com as ferramentas, e tudo mais que envolve essa parte do fazer, da prática artística, me encanta bastante. A expansão do conhecimento técnico, pesquisa de pigmentos, entender qual o aço da ferramenta que eu uso para talhar e qual a melhor forma de afiar essa ferramenta… todos esses processos que permeiam e circundam a prática artística me interessam bastante”.

Durante a pandemia, Marcelo conta que seguiu trabalhando da mesma maneira, mudando apenas as inspirações a sua volta. “Minha prática sempre esteve ancorada muito na observação do que está no meu entorno. Eu continuei fazendo isso nesses tempos de isolamento social. Obviamente o campo de observação foi restringido um pouco por conta da situação e eu terminei ficando mais focado no espaço da minha própria casa. Porém, é incrível como ainda assim são infinitas as possibilidades do que observar e de universos para se explorar, mesmo dentro de espaços pequenos. Para mim a prática continua sendo essa da relação diária, e funciona quase como uma meditação estar talhando, desenhando e pintando. São processos que me ajudam até a desligar um pouco dessa maluquice que estamos passando. Funciona um pouco como uma busca de equilíbrio”.

Além de desenvolver pesquisas artísticas em diversas linguagens, com destaque para o desenho, a fotografia e a escultura, Marcelo também dá aulas de arte e conta que o método de ensino da Panamericana é uma inspiração. “O método de ensino da escola com foco na autoralidade é bastante marcante. Hoje, trabalhando como professor eu ainda pego muito emprestado algumas sequências e tipos de exercícios que eu aprendi na Panamericana lá atrás, em 2001 e 2002. Me marcou bastante principalmente o primeiro ano de Arte e Design, acredito que por eu ter uma ligação muito forte com o desenho. Muitas coisas que eu aprendi ali eu uso bastante até hoje”, revela.

Sobre seu livro infantil “O Mundo Seria Mais Legal”, lançado em 2017, o artista plástico revela que esse era um dos projetos engavetados enquanto trabalhava com publicidade e que tem planos de fazer outros trabalhos do tipo: “Eu não tinha tempo de me dedicar a essas ideias quando estava na publicidade e sempre tive essa vontade. Fui aluno do Odilon Moraes, que é um ilustrador que eu adoro, e é uma coisa que me agrada também. Eu tenho outras ideias de futuros livros infantis que ainda não estão publicados. Eu acho que eu tendo a fazer mergulhos em projetos diferentes por algum tempo. Nos últimos meses eu acabei focando em esculturas e esses outros projetos de livros e quadrinhos ficaram de lado, mas volta e meia eles acabam sendo retomados e nascem na hora que têm que nascer. Eu sinto que a única coisa que é constante nos meus trabalhos é a prática do desenho, que inclusive me ajuda a pensar. Sempre tenho em volta de mim algum papel, caneta e lápis, algo que eu possa usar para isso. Então a prática do desenho é a mais perene na minha vida”.

Para os alunos da Panamericana que sonham em trabalhar com arte ou fazer uma transição de carreira, como ele fez, Marcelo aconselha a seguir a intuição e descobrir a hora certa: “Meu conselho é que você nem espere muito e nem se precipite. Tem uma coisa quando você quer mudar de carreira que é respeitar um pouco sua intuição, sentir a hora que você está pronto para mudar. Nunca é fácil, mas é possível. A gente vai sempre encontrando caminhos. Durante esses dez anos que eu fiquei em agência, por exemplo, eu pensei muito nisso, mas por algum motivo eu não me sentia pronto. Então chegou um momento que eu senti que era a hora de fazer essa troca e foi natural, as coisas foram acontecendo. Eu acho que a Panamericana nesse sentido é bastante múltipla. Então é possível aproveitar também as oportunidades que existem lá tanto nas artes, quanto na comunicação, no design e na fotografia. Eu acho que o aluno que consegue passear por esses campos todos sai bem preparado para fazer esse tipo de mudança sem sofrer muito”, finaliza ele.

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