Como os NFTs têm revolucionado o mercado de arte digital

Funcionando como uma espécie de certificado de autenticidade, os non-fungible tokens têm conquistado artistas e colecionadores e movimentado milhões em leilões no mundo todo

As incessantes mudanças tecnológicas e a efemeridade da produção artística em tempos de transformação digital têm ressuscitado um antigo dilema que o filósofo e sociólogo alemão Walter Benjamin discutiu em “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”, em 1936. Ao mesmo tempo em que as inúmeras possibilidades de reprodução das obras democratizam a arte, fazendo com que ela alcance um maior número de pessoas, elas também podem terminar banalizando-a e fazendo-a perder valor.

A arte é uma disciplina de valor intangível. Como mensurar ou precificar a inteligência e a criatividade de um artista ao criar suas obras? Com a arte digital, o questionamento é ainda maior. Afinal, como definir o valor de uma obra de arte que pode ser facilmente replicada e copiada sem sequer perder qualidade? De que maneira é possível ter certeza que um trabalho que existe apenas no universo digital é original? Como transpor a característica de relíquia das obras de arte físicas para a arte ‘digital’?

Nenhum desses dilemas se resolverá facilmente da noite para o dia, é fato. Porém, o conceito de NFT, um novo formato de certificação de autenticidade digital que tem movimentado o mercado de arte digital, pode ser o início de um caminho. A sigla, que ganhou os holofotes no mundo todo ao causar euforia no mercado de criptoarte, significa “non-fungible token”, ou “token não-fungível”, em tradução livre. Por meio do protocolo de segurança blockchain, a mesma tecnologia usada em criptomoedas como a bitcoin, os NFTs garantem a autenticidade e exclusividade de itens digitais, possibilitando que seus criadores os vendam em plataformas específicas e ainda retenham os direitos autorais, podendo reivindicar royalties.

Os NFTs não resolvem o problema da reprodutibilidade das obras, mas garantem exclusividade aos arquivos originais em únicos, já que a tecnologia cria registros criptografados e certificados de propriedade. O dilema então passa a ser outro: por que comprar o original se no universo digital absolutamente tudo pode ser copiado inúmeras vezes sem perder a qualidade? Pois bem, pode parecer sem sentido, mas esse novo mercado de non-fungible tokens tem movimentado milhões no mundo inteiro e conquistado inúmeros colecionadores, não apenas de obras de arte digital, mas de memes, vídeos, músicas, fotos e até skin de jogos, entre outros.

Para se ter uma ideia, em fevereiro deste ano, a cantora canadense Grimes vendeu uma coleção de obras de arte digitais por US$ 6 milhões; em março o primeiro tweet de Jack Dorsey, fundador do Twitter, foi leiloado por US$ 2,9 milhões, a foto da coluna Kevin Roose, do New York Times, foi vendida por US$ 560 mil, e um vídeo de um jovem queimando uma obra digitalizada de Bansky publicado no YouTube foi vendido por US$ 328 mil na versão digital.

Ainda em março, Mike Winkelmann, mais conhecido como Beeple, artista digital que publica uma imagem diferente por dia no Instagram desde 2007, fez uma colagem com seus trabalhos postadas nos primeiros 5 mil dias desde que criou o seu perfil na rede social. A obra, intitulada Everydays — The First 5000 Days, foi a leilão após ter sido registrada com NFT e foi vendida por quase U$ 70 milhões, fazendo de Beeple o terceiro artista vivo mais rico do mundo.

É importante ressaltar que, assim como acontece com uma obra de arte física, o valor de uma obra digital é influenciado por inúmeros fatores, como o nome do artista e o interesse que ela desperta, e não apenas por sua originalidade. Por ser algo inovador, o mercado de NFTs têm de fato despertado a atenção de entusiastas e colecionadores, mas não é isso que fará da arte digital mais ou menos valiosa do que qualquer outro formato de arte. A nova tecnologia garante apenas a exclusividade de uma obra, não garantindo nem mesmo que ela não possa ser pirateada. Além disso, mercados como o dos tokens são criados de forma artificial, com base em especulação e são bastante voláteis. Ainda assim, os NFTs proporcionam muito mais que apenas uma nova forma de comércio de arquivos digitais. A tecnologia é uma maneira de agregar valor às obras, fazendo com que as negociações possam ser feitas com segurança por meio de um sistema que possibilita que o envio e o recebimento dos dados sejam rastreados. Para o crescente mercado de arte digital, a novidade pode ser uma verdadeira revolução.

 

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