Cinco passos que vão ajudá-lo a “re-enxergar” a arte

Arte é experiência pessoal que precisa ser experimentada para nos transformar e, para isso, precisamos “re-enxergá-la”.

Arte é conceito abstrato, subjetivo, difícil de ser definido. Nossa experiência com a arte subordina-se à nossa compreensão dela. A forma como enxergamos e interpretamos cada obra de arte é o que dá vida a ela. Usamos nossas vivências, gostos e desejos para estabelecer uma relação com quadros, esculturas, ilustrações, grafites, instalações e todos os outros tantos tipos de arte.

É por meio da arte que pensamentos e anseios da humanidade, de diversos povos e épocas, são representados ao longo da história do homem e do mundo. Nossa história e cultura podem ser retratadas por um conjunto de valores estéticos que se transformam ao longo do tempo. Com a evolução das grandes civilizações, nossas perspectivas teóricas e práticas sofreram alterações, nossos pensamentos e sensibilidades mudaram e, consequentemente, o que se entendia por arte séculos atrás é bastante diferente do que se entende por arte nos dias de hoje.

Talvez por conta das enormes mudanças que sofreu ao longo dos anos, a arte contemporânea seja tão questionada. Por quebrar a ideia habitual e preestabelecida do que é arte, ela pode incomodar e perturbar. Por fugir aos nossos conceitos prévios, a arte contemporânea, às vezes, se torna restrita a “especialistas” e faz com que muitas pessoas se acostumem a repetir automaticamente a recorrente pergunta: “isto é arte?”.

Arte é experiência pessoal e coletiva capaz de nos transformar. É preciso experimentá-la para que possamos nos libertar do pensamento encaixotado que a rotula e que nos faz sentir estranheza diante de obras que não se deixam definir. Para que possamos restabelecer uma relação mais próxima com obras de arte é fundamental “re-enxergar” a arte como um todo.

Conheça a história da arte

Conhecer a origem, o contexto histórico no qual uma obra foi criada, compreender a intenção do artista é essencial para que possamos entender a arte. A função da arte varia de acordo com as exigências de cada época exatamente porque ela está diretamente ligada aos fatores históricos. Portanto, compreender a história da arte facilita a interpretação das obras.

É claro que, para podermos nos libertar do pensamento encaixotado que nos leva a rotular a arte, como sugerido acima, precisamos nos desapegar de conceitos preestabelecidos, e a história da arte não deixa de ser um deles. Porém, o conhecimento aliado à observação e à reflexão nos dá as ferramentas intelectuais necessárias para que possamos sentir a arte de forma diferente. Comparar a nossa interpretação de cada obra à sua história e à intenção de cada artista é um exercício que nos faz enxergá-la por diversos pontos de vista.

Exercite a reflexão

É muito fácil admirar e apreciar uma obra de arte que consideramos bela, de alta qualidade técnica e que reproduz o que consideramos de “bom gosto”. A nossa experiência pessoal com a arte tem vários aspectos, tanto conscientes quanto inconscientes, e, por isso, o exercício de verdadeiramente refletir sobre uma obra e suas referências, sobre as sensações e interpretações que tal obra desperta em nós, pode transformar nossa percepção sobre ela.

Coloque arte no seu dia a dia

Infelizmente, no Brasil, as pessoas não são educadas e preparadas para refletir diante de uma obra de arte. Não temos o hábito de visitar museus, ir a teatros e assistir a espetáculos musicais com tanta frequência e também não estamos acostumados a parar diante de qualquer obra de arte para simplesmente apreciá-la e pensar sobre ela. O hábito de conviver com arte no dia a dia, de pararmos para sentir e pensar enquanto observamos, ouvimos ou assistimos a quaisquer obras de arte faz com que possamos de fato nos aprofundar no mundo da arte. A proximidade que desenvolvemos com cada obra de arte é extremamente importante para que possamos estabelecer uma relação concreta com a arte.

“Desintelectualize” a arte

Quando estamos diante de uma obra de arte, é muito comum que nos questionemos se realmente entendemos de arte. Nos perguntamos se de fato compreendemos aquela obra filosoficamente, esteticamente e teoricamente; o que, muitas vezes, nos faz esquecer de sentir, experimentar e realmente gostar de arte. Diante dessa “intelectualização” da arte, terminamos por nos afastar de seu propósito principal, que é a sua interação com o meio social.

Em vez de interagirmos com a arte e vivenciarmos as obras, terminamos nos esforçando para avaliá-las, rotulá-las e dominá-las. É evidente que o conhecimento e o entendimento são importantes para que possamos “re-enxergar” a arte, como citado acima. Porém, tais critérios não devem ser nem descartados nem tomados como condição sine qua non para nossa relação com a arte. É preciso sentir a arte e dar a ela nossa própria interpretação. Afinal, parafraseando Umberto Eco, “a obra apenas vive nas interpretações que lhe são dadas”.

Defina o seu gosto

Tal qual a própria arte, a questão do gosto é também bastante subjetiva. A preferência por uma ou outra obra ou manifestação artística não brota magicamente. Geralmente, nossa sensibilidade à arte surge a partir de conceitos prévios decorrentes do que podemos compreender e aceitar. A forma como reagimos ao que vemos, ouvimos ou sentimos é decorrente de experiências pessoais únicas e intransferíveis.

O gosto tem o enfoque da individualidade, da particularidade e é, portanto, muito relativo, apesar de sua perspectiva universalizada. Há consensos, de pontos de vista críticos, sobre o que é de mau ou de bom gosto, porém é imprescindível que tenhamos consciência do que nos agrada ou não, apesar do senso comum. Refletir sobre as obras de arte e entendê-las é de fato um exercício muito importante para que possamos nos aproximar delas e “re-enxergá-las”, mas sentir e gostar de cada experiência que temos por meio das diferentes manifestações artísticas é fundamental para realmente criarmos uma relação íntima com a arte.


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