A Semana de Arte Moderna de 1922: o evento que transformou para sempre o contexto artístico e cultural brasileiro

Em 2022 uma das principais manifestações artístico-cultural brasileiras terá seu centenário amplamente comemorado em inúmeros eventos que relembrarão sua importância para a arte brasileira

Há poucos meses de completar 100 anos, a Semana de Arte Moderna de 1922, já começou a ter seu centenário celebrado em diversos eventos por todo o estado de São Paulo. Na capital paulista, a Casa das Rosas, a Casa Guilherme de Almeida e a Casa Mário de Andrade oferecem atividades de formação, debates e apresentação sobre a manifestação artístico-cultural que foi um divisor de águas na cultura nacional. As Oficinas Culturais, programa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo gerenciado pela Poiesis, também já começaram a promover atividades gratuitas dedicadas ao evento realizado entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, que é considerado o principal marco do Modernismo no Brasil.

A prefeitura de São Paulo também se antecipou e já anunciou o lançamento do projeto Modernismo 22+100, que se propõe desde já a refletir e celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, e divulgou uma vasta programação de eventos que farão parte das comemorações até o ano que vem. Os primeiros cinco episódios do “Ciclo Modernismo 22+100”, uma série de encontros entre 100 personalidades da Cultura e da Cidade de São Paulo que juntas formarão uma curadoria para o projeto, já estão disponíveis em vídeo ou podcast no site oficial da campanha.

A Osesp, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, é outra que irá comemorar centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 em mais de cem concertos, entre sinfônicos, recitais de seu coro e quarteto. Intitulada “Vasto Mundo” em homenagem aos versos do “Poema de Sete Faces” de Carlos Drummond de Andrade, a temporada dará ênfase a obras modernistas e oferecerá ao público um amplo espectro da produção da época. O Governo de São Paulo também já divulgou uma vasta programação de exposições, produções de audiovisual, espetáculos de dança, teatro e música, seminários, cursos oficinas e festivais multilinguagem que homenagearão a Semana de Arte Moderna de 1922 desde já até 2022.

Um verdadeiro marco na história da arte paulistana e brasileira, a Semana de Arte Moderna de 1922 merece todas as celebrações possíveis. Concebido em um momento em que mundo assistia ao fim de uma grande guerra e renovava suas estruturas mentais e políticas, o evento deu notoriedade a um novo ponto de vista estético e selou o compromisso com a independência cultural do país, fazendo do Modernismo sinônimo de “estilo novo”. A Semana de 22, como ficou conhecido o festival com exposição com cerca de 100 obras de esculturas, pinturas e arquitetura e sessões lítero-musicais noturnas, rompeu com o conservadorismo vigente no cenário cultural da época.

Influenciados pelas vanguardas europeias e pela renovação geral no panorama da arte ocidental, escritores, pintores, escultores, intelectuais e músicos da época uniram esforços para apresentar suas produções ao grande público. Entre os principais nomes do evento estão Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Guiomar Novaes, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.

Realizada em um momento em que o Brasil passava por diversas modificações sociais, políticas e econômicas, como o crescimento do capitalismo, a consolidação da república e o crescimento da elite paulista, a manifestação artístico-cultural transformou os rumos da arte brasileira e foi alvo de muitas críticas por parte dos conservadores. Monteiro Lobato foi um dos autores que publicou uma crítica bastante negativa, intitulada “Paranoia ou mistificação?”.

Apesar de ter chocado parte da sociedade ao trazer uma nova visão sobre os processos artísticos, a Semana de 22 se tornou um símbolo da ruptura com o passado, da renovação de linguagem, da busca pela experimentação e da liberdade de criação no cenário artístico nacional. Na época em que foi realizado, o evento não teve sua importância reconhecida e os artistas que dela participaram foram retratados pela mídia como “subversores da arte”, “espíritos cretinos”, “débeis” ou “futuristas endiabrados”.

Com o tempo, a Semana de Arte Moderna de 1922 teve o seu valor histórico reconhecido e suas ideias de desdobraram diversos movimentos artísticos que levaram seu legado adiante. Agente de transformação do panorama artístico brasileiro, a Semana de 22 foi apenas o início de um processo de modernização cultural no país e se tornou referência para o Tropicalismo, a geração da Lira Paulistana e a Bossa Nova, entre muitas outras importantes expressões culturais brasileiras. Por essas e outras, o seu centenário será amplamente comemorado e se tornou tema de debates, mostras e celebrações que valem a pena serem vistos.

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