A renovação da arte por meio do universo digital

Uma das formas de expressão mais intrínsecas ao ser humano, a arte acompanha nossa trajetória desde o período Paleolítico. Não é à toa que a história da arte caminha lado a lado com a história da humanidade e atravessa os tempos retratando o passado e recriando o presente. Por meio da arte comunicamos sentimentos e ideias, representamos realidades e fantasias, deixando registros de quem fomos e somos e manifestando nossa visão de vida.

Os meios artísticos sempre acompanharam a evolução da raça humana e suas tecnologias. A arte sempre fluiu através dos mais diversos pensamentos e ideologias e com isso se transformou ao longo dos séculos, ganhando diferentes formatos. Com o universo digital inserido em múltiplas esferas de nossas vidas, é natural que a arte se aproprie deste espaço e automaticamente se reinvente.

O surgimento de novas formas de arte contemporânea no período pós-guerra quebrou paradigmas e rompeu com as rígidas tradições do movimento modernista, abrindo caminho para o nascimento do que hoje chamamos de arte digital. A evolução das técnicas possibilitou um rejuvenescimento artístico, fazendo nascer modelos de arte mais flexíveis, inovadores.

Ainda nos anos 60, o aparecimento dos primeiros computadores se transformou em um novo meio de experimentação para artistas de vanguarda como, por exemplo, o alemão Frieder Nake, que interpretou matematicamente, com a ajuda de um algoritmo e um computador, a pintura “Highroads and Byroads”, de Paul Klee.

Em franca expansão desde os anos 80 graças a popularização dos computadores pessoais e ao enorme sucesso de artistas como Andy Warhol – que na época foi contratado pela Commodore para promover o computador Amiga e produziu uma série de 28 experimentos artísticos utilizando a máquina -, a arte digital hoje conquistou seu espaço, requerendo o aparecimento de novos críticos, novos organizadores e curadores, e de um novo sistema de legitimação de arte contemporânea, diferente do tradicional.

Mesmo refutada por alguns críticos de arte tradicional, que a invalidam, a arte digital segue avançando em suas técnicas interativas, convidando o espectador a ser parte das obras. Gostem os especialistas ou não, a arte digital é uma realidade e veio para ficar. Além do Mori Building Digital Art Museum – primeiro museu totalmente digital do mundo, inaugurado em junho de 2018 na ilha artificial de Odaiba, em Tóquio – já existem outros dois estabelecimentos inteiramente dedicados ao gênero: o Atelier de Lumières, em Paris, e o Bunker de Lumières, na Coreia do Sul.

Por aqui, ainda não temos um museu exclusivamente voltado para o universo digital, porém, no início do ano passado, o instituto Oi Futuro apresentou a primeira Bienal de Arte Digital do Brasil, com exposição de obras baseadas no tema “linguagens híbridas”, criadas por artistas nacionais e de outros países como Espanha, Estados Unidos e China.

Como bem resumiu Tadeu Mucelli, fundador do Festival de Arte Digital e responsável pela Bienal de Arte Digital do Brasil: “A arte é o lugar da experimentação, construção de utopias e de novas realidades. No caminho do hibridismo que as artes tecnológicas tem nos levado, o encontro de outros campos tem levantado novas questões, novos objetivos e novos desafios do pensar e fazer arte”.

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