“A Panamericana me deu a bagagem necessária para eu me reinventar durante a crise”, diz ex-aluna do curso de fotografia

Lu Barcelos é dona do próprio estúdio de fotografia e usou os ensinamentos do curso de fotografia da escola para construir uma carreira sólida e continuar trabalhando, mesmo durante a pandemia

Depois de passar no vestibular para estudar Rádio e TV na Universidade Federal de Goiás, Lu Barcelos se deparou com uma greve de professores, logo quando iria iniciar as aulas na faculdade. Ansiosa para começar a trilhar o caminho que havia escolhido para sua vida, ela resolveu então adiantar os estudos de uma das matérias do seu futuro curso. Foi assim que a goiana se apaixonou pela fotografia e, desde então, nunca mais a abandonou.

“Eu continuei estudando fotografia paralelamente à faculdade e ao mesmo tempo trabalhei na área de Rádio e TV. Fiz estágios na Rádio Universitária, na Globo de Goiânia, que aqui se chama TV Anhanguera, e em algumas produtoras. Mas eu já estava interessada em outra carreira e assim que terminei meu curso, resolvi me mudar para São Paulo para estudar. Eu procurei a Panamericana já com a certeza de que eu queria ser fotógrafa e me encantei com a proposta da escola. Apesar de, na época, já ter feito diversos cursos em Goiânia, eu sentia a necessidade de aprender mais”, conta ela.

Na escola, Lu Barcelos passou pela transição da fotografia analógica para a digital e comemora ter aprendido técnicas dos dois universos: “No primeiro ano, minha turma fez todos os trabalhos em filme e isso me deu uma bagagem muito legal. São experiências diferentes fotografar com filme e digitalmente. No segundo ano, 80% da turma já estava trabalhando com o digital e eu tive apoio para fazer a transição. Não cheguei a trabalhar profissionalmente com filme, mas esse estudo dos dois mundos me deu um olhar diferente sobre a fotografia. Foi muito importante”.

Na Panamericana, a fotógrafa conta ter aprendido muito mais do que técnicas e teorias. O método de ensino baseado na prática e com o foco na criatividade proporcionou experiências e aprendizados que ela utiliza até hoje, depois de mais de uma década de carreira. “Durante o curso eu fiz inúmeros exercícios de fotografia que eram exatamente o que eu faço hoje trabalhando no mercado. Minha turma era muito divertida e a gente costumava se desafiar, com o apoio dos professores. Lembro que logo no início do primeiro ano, o assistente do laboratório me desafiou a fotografar um isqueiro prateado num fundo preto com luz contínua e eu precisei fazer oito tentativas até conseguir um bom resultado. Eu lembro bem desse exercício exatamente porque foi uma experiência muito importante, cujo aprendizado eu uso para fotografar joias hoje em dia”, revela.

Além do aprendizado com os professores, o ambiente da escola e a maneira como ele favorece a troca entre colegas de classe também foram fundamentais para que Lu Barcelos desenvolvesse, ainda na Panamericana, algumas das habilidades que a ajudaram a construir sua carreira. “O professor passava, sim, a teoria, mas a ideia era aprender fazendo. A primeira fase do curso toda foi de prática exaustiva e, para uma profissão na qual você evolui com a prática, isso é muito importante. Na segunda fase, começamos a trabalhar mais a criatividade, sempre trocando muito com o professor e com os colegas de classe, conversando muito. Além de praticar muito, a gente debateu muito, o que é muito interessante para a criatividade. A turma era bastante heterogenia e a gente tinha muitos pontos de vistas diferentes, o que para a criação é maravilhoso”, relembra Lu.

Hoje, de volta à Goiânia e com uma carreira estabelecida, Lu Barcelos é dona do próprio estúdio: o Chocolate Fotografias. Depois de fazer assistência para fotógrafos como Marco Pinto e Arnaldo Pappalardo, ainda em São Paulo, ela começou a fotografar profissionalmente sozinha e voltou para sua cidade natal cerca de dois anos e meio depois de se formar na Panamericana. “Quando eu voltei para cá, foi um choque, porque o mercado de Goiânia é muito diferente. Eu saí de São Paulo querendo trabalhar com publicidade, com produtos, e quando cheguei aqui a maior demanda era de eventos. Então eu fiz muitos casamentos, muitos aniversários infantis, e fiz muito retrato em estúdio, antes de conseguir migrar para as fotos de produtos”, diz.

Para conquistar espaço na área em que atua atualmente, Lu Barcelos foi atrás dos seus objetivos com determinação. A vontade de fotografar produtos a levou até uma de suas principais clientes, a designer de joias Eleonora Hsiung. “Eu fui fotografar a capa de um disco e a Eleonora estava lá fornecendo os assessórios para a cantora. Eu gostei muito das peças e quando entrei no site percebi que as imagens não eram condizentes com o trabalho dela. Aí eu não tive dúvidas: liguei para ela, falei que queria muito treinar fotografar produtos e pedi pra ela me emprestar algumas peças. Eu lembro que ela me emprestou três colares e três braceletes, e eu passei uma tarde toda quebrando a cabeça com aquilo. No final ela virou minha cliente e tenho fotos de peças dela que foram publicadas em revistas importantes, como a ‘Vogue’. Como ela tem um grande alcance, é um trabalho muito bacana, porque ele vai longe. São joias bem diferentes e a cada nova a coleção eu tenho um novo desafio”, explica a fotógrafa.

Durante a pandemia, Lu Barcelos precisou fechar seu estúdio e limitar o trabalho com o público. Mesmo assim, a fotógrafa seguiu fotografando em casa com os recursos possíveis e conseguiu não apenas atender alguns de seus clientes usuais, fazendo fotos still, mas também conquistou alguns novos contatos. Segundo ela, as experiências que teve na Panamericana foram fundamentais para que ela se reinventasse durante esses tempos de crise: “Muitos dos exercícios que eu fiz na escola, lá atrás, foram úteis para o agora. Quando você começa na fotografia você tem poucos recursos, e você tem que fazer o melhor com o que você tem. Eu me lembro de um professor, o Ari, que sempre nos dizia que precisávamos entender o que estávamos fotografando, entender o básico para chegar a um bom resultado, mesmo com poucas ferramentas. Guardei o ensinamento de que é preciso dominar o simples, e desenvolver habilidades para encontrar saídas quando nos deparamos com o complicado. Eu lembro, por exemplo, de durante o curso fazer muitos exercícios usando apenas a luz da janela. E durante a pandemia eu fotografei profissionalmente usando a luz da janela. Voltei lá para minha época de estudante para conseguir resolver um problema de um cliente que estava precisando da foto. A escola me deu muita bagagem de criatividade para resolver minhas fotos com o que eu tenho. As tecnologias e recursos são maravilhosos e devem ser sim usadas para o nosso conforto. Mas você precisa saber o básico e desenvolver o olhar para ter um bom resultado em qualquer situação”.

Lu Barcelos conta que não foi só durante a crise que ela usou tal ensinamento para se reinventar. “É óbvio que agora nós estamos vivendo um momento desesperador, principalmente pra quem trabalha com fotografia e com o público, porque temos menos possibilidades de trabalho, e a locomoção e as trocas estão limitadas. Mas a reinvenção e a renovação sempre foram necessárias para o trabalho de um bom fotógrafo. A pandemia apenas escancarou isso. Hoje, os profissionais concorrem com celulares, com um uma infinidade de câmeras digitais cheias de recursos, e com a tecnologia. Então o tempo todo você tem que se renovar para se manter relevante”, explica.

Apesar dos percalços, e de fazer questão de afirmar veementemente que a carreira de um fotógrafo não é feita apenas do glamour, Lu conta que todo o esforço vale a pena porque ela consegue viver da profissão que ama. Para quem quer investir na fotografia como carreira, ela aconselha a manter o pé no chão e estudar sempre: “Você tem que pensar que provavelmente será autônomo, e que terá que empreender. Tem que entender que existe a parte chata também. Vão existir trabalhos em que você vai fotografar coisas incríveis e em alguns momentos em que você vai fazer algo não tão bacana. Mas é importante enxergar a parte chata como incrível também, é preciso colocar toda a sua energia em cada trabalho, porque isso vai fazer com que seu negócio sobreviva. E não parar de estudar nunca! Principalmente hoje, com avanço do digital, que traz junto com ele os avanços das tecnologias, é fundamental estudar sempre o básico e os fundamentos da fotografia!”, finaliza ela.

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