O futuro da economia criativa em tempos de pandemia

Apesar de financeiramente ser um dos setores mais atingidos pela crise, o setor da criatividade passa a ser cada vez mais valorizado, despontando como possível solução para a economia como um todo

Considerado um dos maiores mercados da economia criativa entre os países emergentes, o Brasil foi atingido em cheio pela crise gerada pela pandemia do coronavírus. Com a quarentena durando, até agora, cerca de cinco meses, e a curva de contágio da doença estacionada lá no alto no país, o setor segue sofrendo com drásticas mudanças comportamentais em tempos de distanciamento social.

Os profissionais e negócios que utilizam a criatividade como matéria-prima principal para ressignificar ou agregar valor a produtos e serviços, em áreas como a moda, arquitetura, design, música, artes, publicidade, audiovisual, dança e teatro, entre outros, precisaram se reinventar para tentar sobreviver em meio a uma crise sem precedentes. Segundo a mais recente pesquisa realizada pelo Sebrae, a economia criativa é o segundo setor mais afetado pelos efeitos da pandemia, registrando queda de 70% no faturamento.

É claro que a crise não atingiu todos os segmentos da economia criativa da mesma maneira. Enquanto teatros e cinemas foram fechados, a indústria de games, por exemplo, teve recorde de faturamento em todo o mundo já no mês de março. Estúdios de animação também tiveram grande aumento da demanda, e enquanto o Cirque du Soleil precisou apelar a um programa de recuperação judicial no Canadá, as assinaturas de plataformas de streaming, como a Netflix, tiveram um aumento significativo.

Antes do baque, o mercado vivia uma boa fase no Brasil, com média de crescimento anual de 4,6% em 2018 e 2019. Segundo relatório do Banco Nacional de Desenvolvimento social (BNDS), o setor faturou nada menos do que 190 bilhões em 2019, o equivalente a 3,1% do PIB. Agora, a área da economia criativa – que engloba cerca de 300 mil empresas e instituições, empregando 4,9 milhões de profissionais brasileiros, de acordo com dados de 2017 – só deve voltar a de fato crescer em 2022.

Apesar dos números negativos, é possível enxergar sinais positivos na crise. O boom do consumo cultural online ainda não compensa as perdas financeiras geradas com a paralisação das atividades presenciais, mas está construindo aos poucos novos modelos de negócio que rentabilizam os ativos da economia criativa no ambiente digital.

O mercado se transformou, mas está vivo. Muitos profissionais criativos estão dando aulas online e criando soluções inovadoras, as lives passaram a ser usadas como um recurso recorrente por músicos e artistas, exposições e projeções cinematográficas tem sido feitas em diferentes formatos, o mercado da moda se reformulou e se adaptou ao universo virtual, e a transformação digital foi acelerada de maneira irreversível.

Historicamente, todas as piores adversidades pelas quais a humanidade passou terminaram servindo para direcionar a sociedade a novos caminhos e soluções. Durante as crises, os nossos estímulos e motivações mudam potencialmente, resultando em novos padrões de comportamentos cooperativos, na criação de sistemas e estruturas inovadores e em profundas mudanças de paradigma.

Nesse sentido, o mercado criativo vem se reafirmando como potencial solução para diversos setores da economia como um todo e a capacidade de criar novas maneiras de produção ganhou ainda mais valor no mercado. A criatividade tem, hoje, sua importância mais reconhecida do que nunca. É urgente nos reinventarmos. É preciso ressignificar. E a economia criativa é peça-chave para criar, produzir e utilizar bens e serviços em uma nova realidade mundial. Ela é uma fonte estratégica, onde outros setores não criativos estão buscando por diferenciais competitivos que não sejam necessariamente uma redução de custos e produtividade. Além da habilidade de criação, os processos colaborativos estarão cada vez mais presentes no mercado de trabalho e o consumo cada vez mais consciente. A tendência, é que as pessoas cada vez mais escolham o que comprar tendo como base a relevância do produto e a relação de afeto das marcas com o consumidor.

Portanto, a criatividade torna-se fundamental para que a humanidade se reinvente e crie novos hábitos mais viáveis e sustentáveis, garantindo a valorização dos recursos materiais e imateriais em um futuro próximo. Durante a importante fase de transição para um modelo sustentável de produção e consumo que estamos vivendo, a demanda por todas as atividades relacionadas à produção de conhecimento, cultura e inovação se torna ainda maior, trazendo luz ao futuro da economia criativa.



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